The Dirt, o filme do Mötley Crüe - Crítica (COM SPOILERS)

O tão esperado filme sobre o Mötley Crüe, tão aguardado pelos fãs, finalmente está disponível para os assinantes da Netflix. Pouco mais de uma semana depois, trago aqui minhas críticas ao filme, destacando os principais pontos, tanto positivos como negativos.





Já de início, é importante citar que o filme é extremamente fiel ao livro "The Dirt", escrito por Nikki Sixx e lançado em 2001. Ou seja, temos um retrato muito real de diversas ocasiões pelas quais a banda passou durante o período retratado no filme. Isso pode resultar em algo negativo para uns, positivo para outros, mas prefiro manter isso em um ponto neutro, pois, se esse era o objetivo, parabéns aos diretores do filme. Missão cumprida!

O filme faz muito bem aquilo que se propõe a fazer. No caso, era retratar todos esses excessos da vida de cada um dos membros da banda, demonstrar seu estilo de vida enquanto astros do Rock, esse tipo de coisa. Acontece que talvez esse seja justamente o principal problema do filme, e logo explicarei o motivo.

As opiniões estão muito divididas desde o dia do lançamento, então vamos primeiramente aos pontos positivos:

Pontos Positivos

* Fidelidade à realidade: Antes, destaquei esse ponto como neutro, mas como esse foi um dos principais propósitos do filme, tenho que destacar isso como algo positivo por ter sido feito com maestria, já que praticamente todos os principais incidentes envolvendo o Mötley Crüe foram muito bem retratados no filme. Ou seja, ao contrário de Bohemian Rhapsody, por exemplo, The Dirt não "inventa" ocasiões e nem foge da exatidão temporal dos acontecimentos. Temos o famoso acidente de carro envolvendo Vince Neil e Razzle (Hanoi Rocks), a morte de Skylar (filha de Vince Neil). E, claro, a personalidade de ninguém foi alterada para se encaixar em um enredo fictício ou algo assim, houve simplesmente um molde da realidade para transformá-la em um Longa-Metragem.

Resultado de imagem para the dirt ozzy osbourne scene* Surpresinha: Eu realmente não esperava ver Ozzy Osbourne nesse filme. O Mötley Crüe estava hospedado no mesmo hotel que Osbourne, então é claro que o Príncípe das Trevas apareceu para da dar uma... lambida na sua própria urina e na de Nikki Sixx... Enfim, é uma cena um tanto quanto nojenta onde vemos Ozzy Osbourne devidamente drogado e maluco da cabeça fazendo coisas que só Ozzy Osbourne faz. Mas foi uma surpresa bem agradável, pelo menos até ele começar a ser O Ozzy...

* Atuação: Ninguém precisa ser crítico de cinema pra perceber quando uma atuação é ruim. Creio que não temos falhas consideráveis desse tipo dentro de The Dirt. Destaque para as atuações de Machine Gun Kelly (Tommy Lee) e Daniel Webber (Vince Neil). Ambos capturaram de forma excepcional os trejeitos de cada um dos artistas. Webber se destacou principalmente nas cenas dos shows e gravações, enquanto Machine Gun Kelly interpretou o "jeitão" de Tommy Lee, o baterista extremamente inconsequente e quase sempre sem noção do absurdo. Iwan Rheon teve a tarefa de interpretar Mick Mars, o guitarrista, mais velho e, além de tudo, o homem que carrega uma doença chamada Espondilite Anquilosante, um tipo de artrite em que ocorre inflamação crônica das articulações da coluna vertebral. Por isso, o personagem que Rheon teve que interpretar não era agitado como os outros, nem tão inconsequente, era o "diferentão". Entretanto, ele conseguiu incorporar isso e fazer com que quem assista o filme possa perceber esses problemas de saúde. Outro papel muito bem realizado. Douglas Booth interpretou Nikki Sixx. As cenas de destaque são também as mais pesadas, principalmente aquelas que envolvem drogas, na segunda metade do filme. Durante uma parte considerável do Longa, temos um foco no envolvimento de Sixx com a heroína, até o dia de sua overdose, representado em uma cena muito bem pensada e montada, dando o peso necessário ao ocorrido. Tivemos atuações primorosas nesse filme, principalmente dos atores que interpretaram a banda.

Resultado de imagem para the dirt* Figurino: O figurino é praticamente a parte mais imprescindível em um filme que retrata uma época específica, é preciso ser também muito fiel às características visuais da banda. Certamente, essa é uma das partes impecáveis do filme. As roupas usadas pela banda retratam o estilo "Glam" deles, assim como as roupas que as mulheres do filme usam (Groupies, namoradas, esposas, etc...) são extremamente fiéis à moda da época, e tudo foi feito do jeito que era pra ser.




Pontos Negativos


* Enredo: Apesar dos itens supracitados, a história do filme é bem fraca ou pouco impactante, mesmo que contenha cenas muito fortes. Em suma, o problema do longa é ser extremamente corrido, consequentemente as cenas acabam sendo muito rápidas. Portanto, criar um laço, uma relação com os personagens é mais difícil. O principal exemplo disso no filme é a morte de Skylar, a filha de Vince Neil, causada por um câncer quando ela tinha apenas 4 anos de idade. A cena em si é muito pesada, mas a grande falha do filme é nos dar não mais do que 5 minutos durante o filme inteiro para criar um laço afetivo com a menina, o que consequentemente não dá a cena de sua morte o devido peso. Resumindo: mal vemos Skylar durante o filme e somos jogados diretamente para a cena de sua morte, e isso me desagradou muito, pois eu esperava que esse triste fato fosse tratado de forma a se fazer uma grande homenagem à filha de Vince Neil, mas não foi possível sentir tudo isso dentro da cena, pareceu apenas uma cena solta no meio do filme. As principais falhas do filme estão nesse ponto, era muita história pra contar em menos de duas horas, muitas cenas de fatos importantes são simplesmente jogadas na nossa cara sem a menor conexão umas com as outras, de repente avançamos dois anos no tempo e parece que nada daquilo teve efeito. Não obstante, outra coisa que me fez uma tremenda falta foi um toque mais cinematográfico à história, no caso, realmente inventar algo para completar a história. Por isso eu considero a fidelidade quase total à realidade algo ruim - nesse sentido -, pois impede que a história se torne algo mais grandioso. Nesse ponto, eu comparo diretamente com Bohemian Rhapsody, por exemplo. Muitos gostam e muitos não gostam do fato de parte da história ser totalmente ficcional, mas eu sinceramente não me importo, desde que tudo seja feito de maneira a engrandecer o filme. Na minha opinião, faltou uma dose de ficção em The Dirt.

* Música ou putaria?: O maior erro do filme é fazer parecer que o Mötley Crüe era só "putaria". Nós temos muitas cenas quase idênticas em que vemos exatamente as mesmas coisas (integrantes da banda traindo suas mulheres com as mulheres dos outros integrantes da banda, ou outros que trabalham na banda, coisas do tipo), e durante uma pequeníssima parte do filme nós temos como foco as músicas, gravações, shows, que é, na minha opinião, aquilo que todo fã mais queria ver no filme. A atenção dos produtores pareceu ser mais a representação de uma época, a cena Glam/Hard-Rock dos anos 80 do que a própria banda, o que causou, consequentemente, um desvio muito grande da parte principal do filme.

* Final: Para piorar um pouquinho, somos alimentados durante todo o filme a esperar por algo grandioso no final, talvez um grande show para comemorar a volta da banda depois da saída e retorno de Vince Neil (final do filme), e logo somos agraciados com os créditos do filme depois da cena em que a banda está entrando no palco. Ou seja, além de não termos uma cena completa em um show durante o filme inteiro, ainda temos que nos contentar com uma caminhada supostamente triunfal ao palco mas nada de show. Sinceramente, me pareceu mais preguiça de produzir uma cena dessas do que falta de recurso ou, pior ainda, falta de motivo. Esse filme tinha tudo pra ter uma cena final muito mais emocionante.


The Dirt é um filme divertido, destinado aos fãs mais assíduos da banda. Eu me diverti assistindo, mas me decepcionei um pouco, principalmente por causa do que acabei de destacar nos pontos negativos. Mas de forma alguma é um filme a se jogar fora, vale a pena gastar quase duas horas do seu dia pra dar uma olhada, é diversão garantida, principalmente pra quem gosta da banda, mas mesmo quem nem conhecia o Mötley Crüe, não vai se arrepender de ver, eu garanto!

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